[Missão/Teste para Faith/Lottie] Mundo Oriental/A Taxista

Faith se abaixou imediatamente após ouvir o grito da criada de seu pai, desviando de um golpe certeiro. Automaticamente brandiu sua adaga contra a calda da criatura, fazendo jorrar um líquido dourado. Icor, o sangue dos deuses, Faith se lembrou. Ela e sua avó estudavam isso no dia do acidente de carro que levara a senhora a morte.

A mente de Faith ficou turva. Ela nem ao menos sabia o que tinha acontecido quando se viu caída no chão e a mulher-cobre sibilava palavras que ela não compreendia. A resposta logo estralou em sua mente. Ela estava pensando e entendendo tudo em japonês, coisa que acontecia sempre que batia sua cabeça. Ela sabia que dali a alguns minutos, o efeito passaria, mas não podia ficar deitada ali, ou morreria.
Se levantou rapidamente, mas foi atingida por um chicote/calda na perna, criando um corte profundo em sua coxa direita. Pulou para o lado bem a tempo de desviar da criatura que se lançava em sua direção. Agora inundada pela raiva que seu corte lhe causara, a semideusa subiu em cima da criatura prendendo seus braços junto ao corpo escamoso com as pernas. E então enfiou a adaga em seu peito. Aquilo deixou a criatura fraca, mas não a matara, então a menina segurou a criatura pelos cabelos com a mão livre e deslizou a lâmina de sua adaga com agilidade pelo pescoço da mulher-cobra. Puxou seus cabelos com toda a força que tinha, descontando sua raiva ali. Faith se assustou ao olhar para o resultado. Ela arrancara a cabeça da criatura com as próprias mãos! E finalmente, a criatura se transformou em pó.

Faith fez uma careta de dor, mas acompanhou a fúria de volta para os acentos, mancando. – Você é uma fúria! – Sussurrou para a senhora Dodds. – Por que ainda não tentou me matar, como faz com todos os outros semideuses? – A mente de Faith estava atulhada. A mulher a olhou com uma careta, e então percebeu que dizia tudo em pânico e em japonês. Repetiu tudo em inglês para a mulher, mas não ouviu a resposta porque chegara a sua poltrona. Sentou-se na poltrona, colocou o cinto e abriu sua mochila. Encontrou ali tudo o que deixara. Livros, seu celular desligado, algumas peças de roupa e um quite de primeiros socorros. Abriu o quite e tirou de lá algumas gases, e com uma careta, limpou o ferimento em sua coxa. Logo criou um curativo improvisado e extremamente apertado para parar o sangramento, mas sabia que precisava de um hospital. Precisava sair daquele avião o mais rápido o possível.

Faith cheirou a fruta por precaução. A fruta parecia normal, mas ela própria parecia normal e não era. Cheirou mais uma vez, e o cheiro a fez lembrar-se do chocolate quente que sua avó fazia para ela nas noites frias de inverno em Tokyo. Mordiscou a fruta e o gosto do chocolate quente de sua avó inundou sua boca. Sem pensar nas consequências, enfiou o fruto inteiro na boca. Ouviu Sra. Dodds chiar. – Não coma tudo, menina burra! Quer virar pó? – Faith mordeu o fruto no meio e cuspiu uma das metades pela janela, terminando de comer a metade que sobrara. Instantaneamente, sentiu a dor de sua perna diminuir e diminuir até desaparecer.

Oh, wait... What?

Assim que minha mãe pediu para que eu arrumasse minhas coisas eu queria fazer um monte de perguntas, mas apenas me calei, comecei a morder a parte interna dos meus e fiquei sentada por um tempo no sofá de nossa “sala” enquanto ela foi para o outro cômodo fazer alguma coisa e me deixou sozinha, provavelmente por que queria que eu fosse rápida ao arrumar minhas coisas.
Peguei uma mochila que usava na escola e coloquei algumas roupas, meu livro favorito e observei tudo a minha volta.
– Mas que merda eu estou fazendo? – Sussurrei para mim mesma. – Não sei nem para onde vou, tem algo muito errado e minha mãe não quer me contar...
Caminhei até o outro cômodo, vi minha mãe apoiada na parede, nada feliz, sem malas.
– O que houve mãe? Se você disser que não é nada eu juro que...
– Apenas me escute tudo bem? – Ela disse num tom ríspido, tom que nunca usou comigo antes – Há coisas sobre você que você não sabe, mas logo entenderá tudo, certo?  Não me faça nenhum tipo de pergunta, não vou saber responde-las. – Ela soltou um longo suspiro. – Agora vamos. Temos que ir para a rodoviária, filha. Conhece Long Island?
Não tive tempo de perguntar nada, minha mãe saiu me arrastando pelas ruas de Santa Barbara.

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Faith se sentira estranha por receber um elogio de um monstro, mas apenas sorriu. Prendeu seu cinto com mais força e mordeu os lábios. Não gostava de aviões, muito menos em suas turbulências. Quando o avião começou a tremer, o rosto de Fai tomou uma coloração esverdeada e ela sentia vontade de gritar. – Jigoku kuso! – Faith olhou em pânico pra Sra. Dodds. – Isso não é Zeus, é? Nós vamos morrer? – Sra. Dodds apenas riu.

Oh, wait... What?

Mamãe e eu entramos no primeiro ônibus que ia para o terminal rodoviário e ela me ajudou com as malas.
Sinceramente? Eu até gosto dessa loucura de não saber o que vai acontecer, mamãe sempre faz isso quando quer me fazer alguma surpresa, mas dessa vez, a coisa é mais séria do que eu imagino.
Me sentei no banco da janela e mamãe sentou-se do meu lado, sem dizer uma palavra, mordendo a parte interna do lábio, assim como eu faço quando estou nervosa ou ansiosa.
Os olhos azuis de mamãe estavam tão azuis que pareciam quase brancos, frios e mortalmente lindos, seus cabelos ruivos estavam bagunçados hoje, mais um motivo para que eu soubesse que há algo errado, ela nunca sairia com o cabelo nessas condições, chega até a ser engraçado...
A viagem pareceu durar horas, mas foram apenas minutos, conferi no meu relógio de bolso, pelo menos uns vinte minutos desde que saímos de casa.
O terminal rodoviário estava muito movimentado, por conta das férias. Enquanto íamos andando por lá para pegar algum ônibus mamãe puxou um assunto completamente distinto de nossos assuntos comuns.
– Charlie, – Ela disse – você não vai precisar viajar de ônibus. Deve viajar com uma amiga de seu pai... – Ela me encarou com os olhos semi cerrados.
– Não! Espera! Meu pai? – Olhei confusa para minha mãe – Mas que diabos de história é essa mãe? Amiga do meu pai? Mas...
– Apenas faça o que eu digo! Eu ainda sou sua mãe Charlotte, você deve me obedecer. – Ela respirou fundo e falou com mais calma – Você deverá obedecer essa amiga de seu pai também, ela te levará para um lugar seguro e te manterá viva. Isso é o que importa. Eu te amo muito filha, se eu pudesse continuar mantendo você segura comigo, eu faria, você sabe.
Claro que tudo isso era informação de mais para mim, comecei a sentir um formigamento em minhas veias, seria mais um dos meus ataques de raiva?
Comecei a sentir um gosto de sangue e percebi que acabei arrancando um pedacinho do meu lábio.
– Tudo bem mãe, – Respirei fundo e revirei os olhos. – Eu também te amo.

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Faith quase entrou em desespero. Apesar de querer correr e gritar, apenas balançou a cabeça. – Primeira opção. – A menina suspirou e mordeu os lábios. Sussurrou para si mesma com desgosto. – Vamos morrer! – Não era essa a intenção, mas a Sra. Dodds a ouviu. – Teme a morte, menina burra? – A menina não pode deixar de sorrir com a pergunta. Já a respondera várias e várias vezes para seus avós. – Não. Apenas acho que todos devem aproveitar a vida antes de experimentar a morte.

Oh, wait... What?

Após a não tão calorosa declaração de amor no meio da rodoviária, mamãe começou a me puxar em direção a saída de emergência lateral, ninguém nem prestou atenção em nós duas, o que foi bom, odeio ser o centro das atenções e tudo mais...
Assim que saímos, deparamo-nos com uma mulher com um blazer preto e cabelos presos num coque, ela estava de braços cruzados e uma cara de quem comeu e não gostou, ao lado dela havia um carro preto antigo, mamãe apontou discretamente para a mulher e disse
– Ela já esta esperando por nós. – E nós fomos em sua direção. – Olá – mamãe disse.
– Vocês estão atrasadas, mas pelo menos ainda estão bem. – A moça tomou as malas de nossas mãos – Deixem as malas comigo. Sinto muito separar vocês duas assim... – Assim que disse isso, caminhou até o porta-malas, onde depositou minhas coisas.
– Bom... É isso Charlie, espero te ver em breve filha. – Mamãe disse.
– Eu só... – Queria dizer o quanto estou curiosa para saber o que esta acontecendo, mas deixei para lá e suspirei. – Vou sentir sua falta mãe.
– Eu te amo Lottie. – Ela disse.
– Temos que ir... – A mulher disse rispidamente, colocou a mão sobre meu ombro dirigindo-me para o banco traseiro do automóvel preto, fechou a porta e também entrou no carro.
Fiquei olhando pela janela, minha mãe ali parada, com os braços cruzados e uma das mãos sobre a boca, engoli em seco, tive a estranha sensação que não a veria tão cedo. Coloquei a mão sobre a janela e minha mãe apenas acenou quando o carro começou a se movimentar.
Talvez isso fosse um adeus.

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Oh, wait... What?

Fiquei olhando pela janela por um tempo, e só fui prestar atenção dentro do taxi quando escutei a voz de uma velhinha.
– Qual o destino das duas? – Ela perguntou.
Só então fui me dar conta de que não havia só uma velhinha, havia três delas, todas cegas, com orbitas vazias e negras, apenas a velhinha do meio tinha olhos... Digo, um olho, apenas um olho...
Claro, essa não é coisa mais normal de se ver pelas ruas da Califórnia, mas decidi manter minha boca fechada, a mulher sentada ao meu lado não tem cara de quem gosta de muitas perguntas, sei disso porque tive uma professora bem parecida com ela no ano retrasado, e a maldita odiava minhas perguntas, tipo, muito mesmo, e eu sempre fui bem curiosa...
– Para o submundo. – Logo ela respondeu a pergunta da velhinha.
Franzi o cenho, arqueei a sobrancelha e pensei “Mas que bosta é essa?”.
– Acalme-se criança. Me chamo Dodds... – O pneu do carro cantou e senti que minhas costelas iriam quebrar com a força que minhas costas bateram no banco.
A velhinha que estava no volante dirigia mal pra caramba, ia arrancando canteiros, subindo nas calçadas e tudo mais, logo elas começaram uma discussão sobre de quem era a vez de ficar com o olho. Aquilo me deixou completamente maluca, completamente curiosa pra saber que diabo estava acontecendo ali.
– Hm... Senhora Dodds? – Chamei-a.
– Diga criança.
– Gostaria muito de uma explicação do que esta acontecendo hoje...
– Logo você saberá. Paciência é uma virtude, sabia?
Suspirei e bufei alto. Tentei olhar pela janela, mas as coisas se moviam rápido demais. Logo tudo era apenas uma imensa escuridão e apenas o que eu conseguia enxergar era o que tinha dentro do carro. Os faróis frontais iluminavam, mas eu não conseguia distinguir absolutamente nada a nossa frente.
Alguns minutos depois o taxi parou.
– Qual será a forma de pagamento? – Uma das velhas perguntou para nós.

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Oh, wait... What?

– Nós descemos aqui, criança... – Senhora Dodds disse enquanto tirava algo do bolso.
Assim que ela desceu do taxi eu a segui.
– Até logo... – Eu disse para as velhinhas e pulei do taxi.
A viagem turbulenta mexeu com os meus sentidos, eu estava meio zonza e enjoada, senhora Dodds também estava.
– Bem vinda ao submundo criança, o reio do seu pai. É o caminho mais rápido para o Acampamento, porém o mais perigoso... Até para você. – Ela disse.
Realmente, aquele lugar era assustador. Eu conseguia escutar gemidos e lamentos inexprimíveis, pareciam séculos de dor e tormento.
– Se esse é o caminho mais perigoso, porque viemos por aqui, senhora? – Perguntei.
Dodds apenas me encarou e deu de ombros, como se minha pergunta não fosse importante.
Ok. Vamos recapitular, nós estamos no suposto “reino de meu pai”, mas que diabos isso significa? Milhões de perguntas começaram a se formar em minha cabeça, se eu abrisse a boca seria capaz de sair tudo de uma vez.
Minha cabeça começou a doer por eu não conseguir pensar direito, meu coração começou a bater mais forte, o sangue em minhas veias novamente parecia ferver, e em minha boca o maldito gosto de sangue dos machucados.
Eu  provavelmente teria socado a cara de Dodds quando ela deu de ombros para mim, mas há coisas que eu preciso descobrir, há um lugar que eu preciso chegar e não poderei fazer isso sem ela.
– Vamos acabar logo com isso então, Dodds. Leve-me deve me levar...

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Oh, wait... What?

Dodds e eu caminhamos um caminho escuro e desagradável, muito quente, pior do que a maldita Califórnia. Eu já estava derretendo de baixo de todas minhas roupas pretas a sensação horrível de não poder ver a luz do sol novamente causava-me náuseas, mas por mais que nós tivéssemos andado um bocado, eu não estava muito cansada. Caminhamos até chegar a um imenso paredão, eu realmente não conseguia enxergar o final daquela coisa.
– O fundo do abismo é um lugar... Interessante – Dodds disse.
Aquilo era assustador, horrível de se ver. Não havia como dar a volta naquela coisa, simplesmente por ser enorme, levaríamos séculos para atravessar, havia apenas uma caverna escura, deduzi que aquela era nossa única saída.
– A caverna é perigosa, talvez devesse ficar com isso e tentar se proteger... – Senhora Dodds, de alguma maneira retirou uma enorme espada de um de seus bolsos e entregou em minhas mãos. O negocio era pesado, demorei alguns minutos para conseguir segura-la direito, Dodds também retirou lanternas de seu bolso e me entregou uma.
– Alguma objeção, criança? – Ela perguntou.
– Hm... Nenhuma, eu acho... – Pigarreei e comecei a assoviar uma das minhas musicas favoritas da banda AC/DC, Highway to hell, mas Dodds ficou irritada e mandou eu me calar.
Com o rosnado que ela deu, até fiquei quieta, senti que ela seria capaz de me devorar se eu continuasse.

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Oh, wait... What?

Até compreendi o motivo por Dodds me mandar ficar quieta, aquele lugar parecia muito perigoso, um cheiro desagradável, um breu...
Dodds me entregou uma das lanternas, entrou na frente e eu a segui na caverna escura. Duas lanterninhas não eram quase nada naquele breu. Havia ossos humanos pendurados no teto, outros espalhados pelo chão. Dodds estava meio que, ronronando, ou algo assim, achei um absurdo e fiquei abismada.
Um grito horrendo tomou conta da caverna, tentei tapar meus ouvidos, mas quase cortei Dodds no meio com a espada. Enxerguei dois pontos brilhando no meio da escuridão. Apontei minha lanterna em direção aos pontinhos brilhantes, quase tive um infarto ao ver aquilo. Era um ser horroroso, com olhos brilhantes e malignos, dentes tortos e para fora da boca e os cabelos mais nojentos que já vi em toda minha vida.
– Mas que diabos é isso Dodds? – Perguntei assustada.

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Oh, wait... What?

Dodds pareceu tão nervosa quanto eu.
– Isso é um espírito atormentado, criança. – Ela disse.
Do nada, mágica e misteriosamente, Dodds começou a se transformar em alguma coisa que parecia a cruza de um morcego com uma toupeira maligna sem pelos, o couro todo negro com escamas, olhos aterrorizantes, garras nas mãos e dentes afiados – Prepare-se, eles são realmente perigosos.
Não discordei de Dodds, achei a frase dela bem óbvia e nem quis discutir sobre o assunto, achei que o momento não era oportuno.
O espírito atordoado começou a se mover em nossa direção, andando apoiada em seus braços e pernas humanóides, ela estava gritando e aquilo ia me deixando atordoada.
Ela estava perto o suficiente de Dodds e eu, não havia como fugir dali sem antes matá-la, expulsá-la, exorcizá-la ou seja lá o que for...
O espírito estava perto demais de nós, e foi então que ela deu um salto na parede e usou-a como impulso para lançar-se contra Dodds e eu.
A primeira coisa estúpida que eu fiz foi levantar a espada que eu segurava em minha mão direita. Levantei-a como proteção, mas talvez aquilo não fosse funcionar, será que espíritos morrem esfaqueados?

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