[Teste para Heath J. Pew]

Acampamento. Que acampamento? Eu já ouvira aquele nome duas vezes após estar frente a frente com meu pai, e nem ao menos imaginava o que isso queria dizer.

- Você precisa chegar ao acampamento! Ninguém virá te buscar, é arriscado te ajudar, mas... - Me ajudar? Bom, qualquer ajuda iria ser bem vinda, logo que eu nem sabia o que era o tal acampamento.

Uma lancha surgiu entre as águas e uma elevação feita de pura água me ergueu até a mesma, fazendo com que eu me assustasse de certa forma, descobrir o que descobri de uma hora para outra e ainda perder a Helena não foram um conjunto muito simpático para essa tal nova vida.

- Adeus, meu filho.

Ele desapareceu e eu fiquei com mais lagrimas em meus olhos, fora tão pouco tempo em contato com ele. Então uma figura surgiu das águas saltando no banco do piloto. A princípio era apenas um borrão d'água, mas logo se transformou em uma linda jovem, que me lembrava Helena, não fisicamente, mas pela forma de ser.

Menino! Acomode-se logo, teremos uma viajem... interessante. -

A obedeci sem questionar, ela parecia urgente e talvez com pressa. Sentei e apertei o sinto, parecia uma longa jornada.

A lancha empinou bruscamente para frente quando ela acelerou, meu corpo foi arremessado para a mesma direção, mas quando ela acelerou novamente, ele ficou colado ao banco, o solavanco era tão intenso que eu sentia que a pequena embarcação poderia virar a qualquer momento, mas tinha uma certa confiança na jovem, afinal de contas, não seria qualquer uma que o senhor dos mares iria mandar guiar uma lancha, mesmo que para um filho qualquer.

- A propósito, o colete! - A claro, como eu pude esquecer? Olhei ao redor procurando o colete, ou melhor, um colete, encontrei um no fim da embarcação e com certa dificuldade, consegui pega-lo. - A tia Iaera gosta de velocidade. Qual o seu nome?

Gosta de velocidade? Juro que não tinha percebido, pensei. Suspirei e tentei falar o mais alto que pude, o vento estava selvagem e dificulta a um diálogo.

- Meu nome é Heath. A viagem ainda vai demorar muito?

Falei e imediatamente olhei para a orla, agora parecia um desenho, tão pequeno, tão distante. Apertei a medalha Lenna que estava em meu pescoço e fechei os olhos.

O.k. Long Island, nunca imaginaria que ali haveria um acampamento para crianças bizarras como eu. Mas tudo bem, só queria não ser o único bizarro por ali, já é difícil ser ser esquisito entre pessoas normais, ser esquisito entre pessoas esquisitas seria pior, e mais se eu fosse o único, esses confusos pensamentos me deram um baita frio na barriga.

- Ow, ow! - Ieara olhou para trás e não pareceu muito satisfeita com o que havia visto. Resolvi olhar também, não sabia o que era, mas estava se aproximando de forma rápida, e ao meu ver poderia ser outra embarcação. Não conseguia entender por que ela parecia assustada em relação aquilo.

Continuei observando enquanto ela murmurava algo que nem dei atenção, então resolvi perguntar.

- O que é aquilo ali?

Apontei para o objeto que se aproximava com rapidez e me dei conta que ela também estava indo mais rápido, isso não era um bom sinal, olhei para a orla e ela estava muito longe para fugir apé, estava perdido, se algo acontecesse eu não sei se seria capaz de sobreviver, era só um garoto assustado.

Ieara não falou o que eles eram, na verdade ficou praguejando em uma língua esquisita, que eu conseguia entender, isso era estranho. Na verdade, as coisas só ficavam mais estranhas a cada momento. Olhei novamente para a lancha inimiga, eu a julguei inimiga após as expressões de Ieara, que se aproximava trazendo a bordo varias criaturas nanicas com cara de cachorro, o.k, realmente o meu dia estava ficando muito estranho.

- Essas coisas estão vindo atrás da gente, faz alguma coisa! - Falei entrando em desespero.

Ow, o filho de Poseidon aqui é você, se vira!

Fiquei indignado com a resposta, mas pelo menos agora eu sabia o nome do cara da praia, mas isso não vem ao caso, como eu poderia fazer alguma coisa? Isso era algo muito difícil de se dizer, e ela falava como se eu fosse a criatura mais magnifica do mundo, o que não era nem de longe verdade.

- Ta, mas o que eu faço? Eu não sei nada dessas coisas aí! - Gritei devido ao vento.

- Filhos de Poseidon tem de ser sempre retardados! - Xingou.

Revirei os olhos e olhei novamente parda a lancha, que estava tão perto que quase poderia se saltar de uma embarcação para outra.

A flecha passou zunindo em meu ouvido, nunca fiquei tão feliz por ter escapado da morte, a mesma quebrou o vidro, mas não me machuquei com os estilhaços, por sorte. Um dos anões com cara de cão pulou na nossa lancha, Ieara até tentou joga-lo para fora, mas não adiantou, ele se segurou firmemente.

- Mais alguma ideia brilhante, moça? - Falei resmungando, pois quase caí quando ela manobrou a embarcação.

Ela pareceu não gostar do comentário, pois me lançou um olhar furioso, mas relevou e ao invés de falar algo ofensivo ela tentou buscar alguma atitude vinda de minha parte.

- Acho que estou um pouco ocupada, por que não se vira? - Ela revirou os olhos e manobrou a lancha perigosamente de novo, o que fez o filhote de pit bull anão escorregar novamente.

Olhei a minha volta tentando pensar em algo, e rápido. Mas só tinha água por todo lado. O.k, eu sou filho do deus dos mares, mas isso era novo para mim e eu ainda não estava muito convencido da ideia, então outra ideia me surgiu a mente: os cacos de vidro. Era estranho, eu sei, mas eu tinha uma afinidade incomum com estes. Eles sempre se encaixavam perfeitamente em minha mão e eu os atirava com perfeição. Tirei o colete e me levantei indo até o capo da lancha, pegando todos os cacos possíveis.

- Você perdeu o juízo ou ta tentando se matar?! Saia daí!

Me virei a tempo de ver o pequeno pitt bull quase acertando a garota, arremessei um caco de vidro que bateu na espada dele, quebrando-se. Ele me olhou com olhar maligno e eu sorri girando um outro pedaço entre os dedos, tentando parecer corajoso por que claro, eu estava me borrando de medo.

O filhote de pitt bull anão realmente estava afim de me comer, literalmente. Isso não parecia uma ideia muito legal, mas o que eu poderia fazer? Eis a questão! Será que ele poderia perceber o quão amedrontado eu estava? Espero que não.

Olhei confuso para Ieara, ela tentava de todas as maneiras possíveis fazer o "cão" cair, mas ele parecia ter cola nos pés! Não, espera, que ideia de gênio! Se eu acertasse os pés dele ao mesmo momento que Ieara fizesse uma de suas manobras malucas, ele perderia o equilíbrio e iria cair, seus companheiros iriam tentar ajuda-lo e nesse meio tempo nós iriamos nos distanciar, um plano tão perfeito que eu eu tinha certeza que daria errado, mas não bastava tentar.

- Ieara! - Ela olhou para mim e eu pisquei para ela, indicando que ao meu sinal ela faria mais uma manobra maluca como aquela, ela pareceu compreender o que eu dizia e concordou, mesmo achando que seria uma má ideia, até eu achava uma má ideia! - No três! Um, dois, agora!

O anão com pelos já estava prestes a me atacar quando Ieara fez outra manobra, como eu havia esperado ele se segurou, lancei então o caco de vidro em seus pés pegando-o de surpresa, foi aí que Ieara fez outra manobra e eu lancei outro caco, com expectativa que funcionasse eu me segurei na ferragem do para brisas e observei atento.

Suspirei fortemente e um pouco tonto, eu havia feito aquilo? Engoli em seco e serrei os punhos, lembrei do incidente no beco, lembrei daquele gigante de um olho só, uma lagrima caiu quando lembrei de Helena. Senti meu estômago revirar novamente, como no beco, Ieara fazia manobras perigosas, mas eu não estava com medo de cair, pelo contrario, meus pés estavam totalmente fixos no chão. Senti jatos de água atingiram a lancha, mas não vi se acertou algum arqueiro novamente ou outro projeto de pitt bull.

Me sentei no banco totalmente tonto, com um calafrio subindo a espinha, ofegante. Ieara olhou para mim e em seguida para a lancha inimiga que agora estava um pouco atrás.

- Você foi ótimo Heath, de verdade. - Sua voz parecia preocupada comigo, eu não entendia o por que, mas não tinha vontade de fazer nada. - Temos que nos apressar.

Ela olhou novamente para trás para ter certeza se estávamos a uma distancia segura, eu sabia que que não estávamos, eu tinha certeza que não. Resolvi da uma olhada, eles ainda estavam atrás de nós, não muito perto, mas estavam atrás de nós.

- E agora?! - Falei ofegante.

Olhei para Ieara e sorri feito uma criança ao ver o que ela havia feito, estava muito aliviado por não ter que enfrentar aquelas coisas mais uma vez. Ela xingou os cães e eu ri novamente, mas fiquei confuso quando ela pediu para que eu me molhasse, pra que, afinal de contas?

Ela deve ter percebido que eu estava confuso, ou simplesmente tinha o poder de ler mentes por que olhou para mim e logo falou.

- Confia em mim, ta?

Suspirei e ela reduziu a velocidade, olhei para a água que estava correndo ao redor da lancha, pus minha mão ali e fechei os olhos, sentindo a água subir por meu braço e fortalecer todo o meu corpo, como se nada daquilo houvesse acontecido, estava renovado.

Olhei para Ieara e sorri agradecido.

- Obrigado.

Olhei para a orla e vi que dessa vez não estava tão longe, talvez não estivéssemos muito longe, talvez eu estivesse enganado. Mas resolvi não falar nada, apenas fiquei atento olhando ao redor, com medo de que mais coisas quisessem atacar nosso barco.

A viagem estava demorando muito tempo, e comecei a discordar do fato de Ieara dizer que chegaríamos em 40 minutos ao tal acampamento. Tudo bem, estava demorando um pouco mais e embora eu tivesse recuperado minha energia, ainda estava bastante cansado. Olhando para a orla praticamente o tempo todo, cheguei a perceber algo se movimentando em baixo d'água, o que seria aquilo? Para julgar pela minha sorte, não seria uma coisa boa. Olhei para a jovem que dirigia com uma expressão séria estampada no rosto e ousei olhar para trás, por precaução, poderíamos estar sendo seguidos, mas fora a mancha escura sobre o mar, nada estava a nossa volta.

Lembrei que a espada do projeto de pitt bull anão ainda estava no casco da lancha, levantei de meu lugar fazendo com que Ieara olhasse imediatamente o que eu estava fazendo, peguei a espada e tentei remove-la do casco, com um pouco mais de força do que eu imaginei, consegui. Ela ainda olhava para mim e eu percebi que me justificar seria uma boa ideia.

- Sabe como é, nunca se sabe!

- Não vai acontecer mais nada, falta pouco agora, vê se relaxa cara.

A resposta dela me intrigou um pouco, ela parecia com vontade de nada, assim como eu estava antes. Ela deveria estar cansada de pilotar aquela lancha, não a julgo, muita coisa aconteceu desde que deixamos aquela praia em Nova York. Sentei ao lado dela novamente e fiquei procurando a sombra, mante-la em minha vista não parecia má ideia.

A sombra parecia ter desaparecido, isso me deixou realmente mais tranquilo, até que um solavanco me fez praticamente cair da lancha, tive de pensar muito rápido e me segurar firme, caso contrário, teria batido a testa no para brisas quebrado.

Talvez fosse sorte, talvez não. A criatura surgiu do meio do mar fazendo com que eu e Ieara ficássemos boquiabertos. Era realmente gigantesca, assustadora e seus olhos eram penetrantes de um modo tenso e arrepiante. Ieara me olhava sem saber o que fazer, estava tão amedrontada quanto eu e xingava mais que nunca, cheguei a ter pena da língua que ela falava.

O grande monstro abriu a boca, começou a vir em nossa direção, ele iria abocanhar a lancha. Em um pensamento rápido, joguei a arma que estava em minhas mãos na boca do monstro, ele parecia ter uma couraça muito dura para se perfurar por fora, deveria ser morto de dentro para fora. Mas assim que a joguei e olhei para Ieara, que estava com uma cara não muito boa, soube que talvez tivesse feito a coisa totalmente errada e iriamos morrer.

- Me fala que não fiz besteira, por favor! - Falei desesperado.

Não tinha mais nenhuma solução em mente, estava completamente sem ideias, sem Ieara e agora sem armas. Grande plano o meu, para um cara que nunca havia pego uma espada ou qualquer outro tipo de arma na vida. Quando o monstro mergulhou, cheguei até a ficar feliz, pensando que ele houvesse desistido, mas o sorriso saiu instantaneamente quando ele reapareceu atrás da lancha, aquilo realmente era algo que eu não previa, além de que, a criatura não desistiu. Eu não tinha nenhuma ideia, então vi um note salva vidas daqueles que quando se aperta a válvula eles se enchem automaticamente de ar, seria que eu poderia por aquilo na boca do monstro e faze-lo se entalar?

Não pensei duas vezes no caso, peguei aquilo em minhas mãos e com um forte impulso eu me joguei na água, esperando que o grande monstro tentasse me abocanhar, assim eu desviaria e deixaria o bote encher na boca dele, se não funcionasse pelo menos eu ganharia mais algum tempo para pensar em alguma coisa.

Meu plano havia falhado, mas o que eu estava esperando? Os dentes daquela coisa eram enormes! Não poderia fazer nada a não ser desistir agora. Caí na água com a força do impacto e comecei a nadar tentando chegar a superfície, não estava nada fácil, a água se tornara violenta e agressiva, quase impossível de se nadar ali. Mas foi aí que as coisas começaram a mudar.

Senti algo me empurrando de volta para a superfície com uma certa facilidade, quando me virei para olhar i que era, tive a surpresa. Era um cavalo marinho, um majestoso cavalo marinho, diferente desses que vemos em livros de biologia, ele era enorme, quase o tamanho de um cavalo terrestre e suas cores eram magnificas, se misturavam entre si. Em sua boca ele trazia o que mais me deixou feliz: A espada que havia caído na água.

Segurei em seu pescoço e juntos chegamos a superfície, onde percebi que não havia mais lancha, apenas a enorme serpente. Retirei com cuidado a espada da boca do animal.

- Obrigado, amigo.

Segurei-a firme e mesmo sem coragem ou habilidade alguma, eu sabia que tinha que destruir aquela coisa. Caso contrário, ela me destruiria.

Olhei firme nos grandes olhos dele e falei:

- Qual é? Vai encarar?