[Missão/Teste para Faith/Lottie] Mundo Oriental/A Taxista

"Ah, finalmente!", Faith pensava. "Chega de meninas irritantes. Chega de orfanato maldito." Ela tentou se conter, mas não pode deixar de pensar. "E talvez conhecer meu pai." Ela só não sabia o quanto estava errada.
Assim que as palavras "Tokyo - Nova Iorque" passaram no telão, Faith jogou sua pesada mochila de viajem sobre os ombros e agarrou seu malão pela alça, o arrastando até a plataforma. Os pelos da nuca de Faith estavam arrepiados, e ela sentia no sangue que algo estava prestes a acontecer. Entregou seu passaporte para o bilheteiro e entrou no avião, colocando o capuz da jaqueta por cima da cabeça. Sentou-se em sua poltrona no fundo do avião, tirou um livro de dentro de sua mochila e enfiou a cara nele, fingindo ler. Observou tudo com cautela, enquanto seu coração martelava cada vez mais forte, prevendo que algo aconteceria.

Por mais que estivesse com raiva, Faith segurou nos ombros da copeira e sorriu calmamente. Apostava que seu sorriso não fora muito tranquilizante, mas era o melhor que podia fazer. – Ei, calma. – Ela disse e levou as mãos ao ziper da jaqueta, o tirando e revelando a camiseta de banda que usava. – Não tem problema, não foi nada. – Sussurrou e abaixou a cabeça. – Você é nova nesse trabalho, né? – Perguntou arqueando a sobrancelha. A copeira pareceu entender seu tom sádico da menina, pois apenas sussurrou um "Sim" e saiu. Mackenzie enfiou as jaqueta molhada em sua mochila e se recostou desconfortavelmente em sua poltrona. Os pelos de sua nuca indicavam que aquilo não era tudo que aconteceria.

Faith bufou e mordeu os lábios de forma irritadiça. Olhou para o casal de adolescentes e disse cinicamente. – Que é? – Ao perceber o olhar assustado do casal, respirou fundo e sorriu. – Sim? – Ela disse e se arrumou na poltrona, puxando as pernas para cima e abraçando as próprias pernas.

Faith não podia negar que sentiu medo ao ver as mandíbulas do casal. Não estava gostando nada do que faria, mas se levantou e seguiu os três. Ela sabia que botaria os mortais naquele avião em risco se não fizesse aquilo. – Quem são vocês? – Ela perguntou bruscamente assim que chegaram ao fundo do avião, onde não havia ninguém. – Me deixem em paz! – Ela disse e bateu o pé com força no piso do avião, criando uma pequena rachadura. – Saiam daqui! – Ela disse e tentou sair decididamente dali e voltar pra sua poltrona.

Faith pisou com força na calda do monstro que a prendia. Estava com medo e não sabia o que fazer, até que uma voz estralou em sua mente. Era a voz de sua avó. "Use o que eu te ensinei, Musume*.", disse a voz. "Eu lhe treinei para isso a vida toda".
Ouvir a voz da avó a encheu de coragem. Mordeu os lábios e sorriu do jeito malicioso e maldoso que sabia. – Por que isso interessa a vocês, cobras? – Disse enfatizando a palavra "cobras".
Quando enfim criou coragem, deu um chute no rosto de um dos monstros, que caiu no chão sibilando.  – Vocês são surdas? Eu mandei me deixarem em paz!

***:

O humor ácido de Faith só se acirrava a cada golpe que levava. Suas costas latejavam por causa do tombo. As gargalhadas das criaturas pararam bruscamente quando o terceiro monstro chegou. – Faith? – Faith apenas sorriu amargamente e disse de forma seca. – O que foi? Quer brincar de Vamos-Matar-A-Suposta-Filha-De-Hades também? – Ela então puxou seu pé com força, libertando-se e se levantou, pegou a primeira coisa que viu em um carrinho de uma das copeiras do avião (Uma colher) e a lançou contra a criatura com asas de morcego. Quando se deu por si, já havia acertado outras duas mulheres-cobras com outras colheres. Aquilo não ajudou muito.

Fai deu um salto para trás, com medo de ser atingida pela lâmina da adaga. Se abaixou e a pegou com rapidez, mas quando se ergueu novamente, a mulher-cobra já segurava seu pescoço e o apertava, enquanto com a outra mão enterrava as unhas afiadas na barriga da semideusa. Faith se debatia e esmurrava a criatura, mas de nada adiantava. Somente então enfiou a adaga em sua mão nas costelas da mulher-cobra, que virou pó, derrubando Faith de bunda no chão. Se levantou ainda meio zonza e encarou a criatura com asas de morcego. – Quem é você? Ou melhor, o que é você?

Faith se abaixou imediatamente após ouvir o grito da criada de seu pai, desviando de um golpe certeiro. Automaticamente brandiu sua adaga contra a calda da criatura, fazendo jorrar um líquido dourado. Icor, o sangue dos deuses, Faith se lembrou. Ela e sua avó estudavam isso no dia do acidente de carro que levara a senhora a morte.

A mente de Faith ficou turva. Ela nem ao menos sabia o que tinha acontecido quando se viu caída no chão e a mulher-cobre sibilava palavras que ela não compreendia. A resposta logo estralou em sua mente. Ela estava pensando e entendendo tudo em japonês, coisa que acontecia sempre que batia sua cabeça. Ela sabia que dali a alguns minutos, o efeito passaria, mas não podia ficar deitada ali, ou morreria.
Se levantou rapidamente, mas foi atingida por um chicote/calda na perna, criando um corte profundo em sua coxa direita. Pulou para o lado bem a tempo de desviar da criatura que se lançava em sua direção. Agora inundada pela raiva que seu corte lhe causara, a semideusa subiu em cima da criatura prendendo seus braços junto ao corpo escamoso com as pernas. E então enfiou a adaga em seu peito. Aquilo deixou a criatura fraca, mas não a matara, então a menina segurou a criatura pelos cabelos com a mão livre e deslizou a lâmina de sua adaga com agilidade pelo pescoço da mulher-cobra. Puxou seus cabelos com toda a força que tinha, descontando sua raiva ali. Faith se assustou ao olhar para o resultado. Ela arrancara a cabeça da criatura com as próprias mãos! E finalmente, a criatura se transformou em pó.

Faith fez uma careta de dor, mas acompanhou a fúria de volta para os acentos, mancando. – Você é uma fúria! – Sussurrou para a senhora Dodds. – Por que ainda não tentou me matar, como faz com todos os outros semideuses? – A mente de Faith estava atulhada. A mulher a olhou com uma careta, e então percebeu que dizia tudo em pânico e em japonês. Repetiu tudo em inglês para a mulher, mas não ouviu a resposta porque chegara a sua poltrona. Sentou-se na poltrona, colocou o cinto e abriu sua mochila. Encontrou ali tudo o que deixara. Livros, seu celular desligado, algumas peças de roupa e um quite de primeiros socorros. Abriu o quite e tirou de lá algumas gases, e com uma careta, limpou o ferimento em sua coxa. Logo criou um curativo improvisado e extremamente apertado para parar o sangramento, mas sabia que precisava de um hospital. Precisava sair daquele avião o mais rápido o possível.

Faith cheirou a fruta por precaução. A fruta parecia normal, mas ela própria parecia normal e não era. Cheirou mais uma vez, e o cheiro a fez lembrar-se do chocolate quente que sua avó fazia para ela nas noites frias de inverno em Tokyo. Mordiscou a fruta e o gosto do chocolate quente de sua avó inundou sua boca. Sem pensar nas consequências, enfiou o fruto inteiro na boca. Ouviu Sra. Dodds chiar. – Não coma tudo, menina burra! Quer virar pó? – Faith mordeu o fruto no meio e cuspiu uma das metades pela janela, terminando de comer a metade que sobrara. Instantaneamente, sentiu a dor de sua perna diminuir e diminuir até desaparecer.

Oh, wait... What?

Assim que minha mãe pediu para que eu arrumasse minhas coisas eu queria fazer um monte de perguntas, mas apenas me calei, comecei a morder a parte interna dos meus e fiquei sentada por um tempo no sofá de nossa “sala” enquanto ela foi para o outro cômodo fazer alguma coisa e me deixou sozinha, provavelmente por que queria que eu fosse rápida ao arrumar minhas coisas.
Peguei uma mochila que usava na escola e coloquei algumas roupas, meu livro favorito e observei tudo a minha volta.
– Mas que merda eu estou fazendo? – Sussurrei para mim mesma. – Não sei nem para onde vou, tem algo muito errado e minha mãe não quer me contar...
Caminhei até o outro cômodo, vi minha mãe apoiada na parede, nada feliz, sem malas.
– O que houve mãe? Se você disser que não é nada eu juro que...
– Apenas me escute tudo bem? – Ela disse num tom ríspido, tom que nunca usou comigo antes – Há coisas sobre você que você não sabe, mas logo entenderá tudo, certo?  Não me faça nenhum tipo de pergunta, não vou saber responde-las. – Ela soltou um longo suspiro. – Agora vamos. Temos que ir para a rodoviária, filha. Conhece Long Island?
Não tive tempo de perguntar nada, minha mãe saiu me arrastando pelas ruas de Santa Barbara.

With: Mommy ♦ Music: Kill me - TPR ♦ Wearing: This

♦ the white swan ♦ @cg

Faith se sentira estranha por receber um elogio de um monstro, mas apenas sorriu. Prendeu seu cinto com mais força e mordeu os lábios. Não gostava de aviões, muito menos em suas turbulências. Quando o avião começou a tremer, o rosto de Fai tomou uma coloração esverdeada e ela sentia vontade de gritar. – Jigoku kuso! – Faith olhou em pânico pra Sra. Dodds. – Isso não é Zeus, é? Nós vamos morrer? – Sra. Dodds apenas riu.